sábado, maio 1

ANTES DE AMAR-TE


Antes de amar-te, amor,
nada era meu:
vacilei pelas ruas
e coisas:
nada contava,
nem tinha nome:
o mundo era
do ar que esperava.
 
E conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
hangares cruéis que se despediam,
perguntas que
insistiam na areia.

Tudo estava vazio,morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua luz, teu sorriso
encheram minha alma.
Nomes e prenomes tive
beijos, caricias e
carinhos me deste,
e tua beleza e tua
pobreza de dádivas
encheram meu outono,
meu inverno,
minha primavera,
meu verão
e agora,
                                            sem o outono de volta...


Pablo Neruda
1904-2004
 

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